quinta-feira, setembro 20, 2007

*** Para você, é claro, um pouco desse momento em que, estando ao largo, ainda assustada com a escuridão, o meu barco se inunda de uma luz repentina, um insgiht, um clarão de farol sobre o mar revolto dessa recém iniciada travessia.***


... Então escrevo para fazer "um simples registro " da grande emoção que tem sido ter você na minha casa virtual, e da grande transformação que se realiza em mim percorrendo as trilhas que vai abrindo à frente, com seus escritos, com suas cartas. E o que você talvez não tenha percebido ainda é que nesta aparente "fuga" de si mesmo, nesta inquietação que o leva a sentir-se sempre dividido, você está na verdade construindo uma pessoa nova, até a última centelha de vida, pois é assim que acontece àqueles que não se conformam em viver como boi carreiro, ruminando a existência, àqueles que descobrem a duras penas como ir se livrando dessa couraça de medo dentro da qual se debatem. E à medida que a vida vai virando morte, dessa armadura imposta vão arrancando os pedaços e vão se livrando dessa idéia falsa de "inteireza" que os fazia prisioneiros. Isso realmente assusta, faz a mente espernear na sua lógica comprometida com preservar o entulho acumulado por anos de ruminações de renúncias, de desencontros , mas precisamos nos livrar logo de todos os nós destas amarras e perceber que não somos aquele que pensávamos ser. Você não é mais quem foi em outros momentos. Uma obviedade que é difícil de engolir. Você dividido em dois mundos quer, na verdade, evitar o encontro com a nova pessoa que já é, e aguarda ansiosa por você. Eu luto por algo, não arredo pé de tal intento. Eu luto por entrar no labirinto sem nenhum fio para me trazer de volta. Pelo menos no plano das idéias já ficou claro pra mim que preciso me perder sem medo, claustrofobia reveladora esta minha, para encontrar todas as saídas. E já comecei a arrancar com os dentes a couraça que me tolheu os movimentos e fez da minha beleza de ser humano um ser disforme e arredio. E isso dói muito. Ah, isso dói. Mas é um caminho sem volta. Já me fiz ao largo, quem sabe o teu barco cruze com o meu... viajantes que somos nesta dobra do tempo. E em gostando de você, de um jeito ainda novo pra mim, sei que estarei aprendendo a gostar de mim mesma, uma unidade possível? E aprendendo com você a conhecer o outro, aquele ser masculino que sempre me fez recuar, eu vou reconstruindo dentro de mim a imagem de homem que eu não soube apreciar durante a vida, uma pena... Você dança comigo este momento? ...

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