quarta-feira, agosto 01, 2007

CARTAS A UM BRASILEIRO QUE TEM VERGONHA DE SEU PAÍS




primeira carta

O senhor, com suas boas maneiras e total desprezo pelo país onde diz que nasceu, parece que aqui não ficou por muito tempo, mas já está aqui de novo, mas somente até sua esposa parar de trabalhar. Segundo me pareceu, o seu desprezo pelo país vai além da normalidade, eu diria que é "afetivo" pra não dizer patológico. Exala um rancor que só se justifica em um relacionamento muito mal resolvido, em que projetamos na paisagem, nas pessoas ao redor, nos objetos, em tudo que constituiu o palco da tragédia, a nossa agressividade e rancor.É um direito seu ir pra onde quiser, basta ter dinheiro. Mas afirmar que desrespeito pela raça humana é privilégio do Brasil, comparado com os países civilizados que apontou, é um tanto audacioso. Olha só o que os "civilizados" ingleses e franceses vêm fazendo no mundo com sua voracidade colonialista! Nós somos xenófobos? Por conta de tentar manter uma identidade, preservar o pouco que escapou do detergente norteamericano na lavagem cerebral , instrumento de dominação? E a volta do nazismo teve até representante na eleição francesa. Uma palavra que subentende racismo, preconceito e lei do mais forte. Não inventamos nada? E daí? Não somos formigas domesticadas como alemães e japoneses, que fazem do dinheiro a máxima de suas vidas. E depois se suicidam e inventam mais guerras pra morrer mais gente pelo deus capital. Não te iludas, amigo, a mesquinharia , a ganância, a pequenez de sentimentos, os dogmas, os protocolos, a servidão, a intolerância, o egoísmo, ou individualismo, são qualidades que encontrarás em qualquer lugar onde exista gente. A civilidade pressuposta é só um verniz, a superioridade pressuposta é só circunstância, no final, a solidão é a mesma, quando o ser humano fica diante de sua própria insignificância, com ou sem caroços de azeitonas, com uma linda paisagem , ou não, com conforto, longe do que lhe aborrece, mas infinitamente aborrecido. Vai por mim!



segunda carta

O senhor diz que tem vergonha de seu país porque é a sombra de uma imagem. Porque aqui tudo parece tão imperfeito, mal acabado, mal educado. Fala até que os índios roubaram um estrangeiro bonzinho. Os nossos índios viviam aqui muito bem, não havia poluição, respeitavam a natureza, tinham com ela uma coexistência que preservava o equilíbrio e garantia a vida do planeta. E olha o que aconteceu. Vieram os europeus, e começaram a cortar madeira a tal ponto que deixaram aquela terra seca e árida. Assim continuou e hoje, os brancos tão civilizados e tão educados e tão superiores não têm uma saída para as graves alterações que ameaçam nossa sobrevivência. Tanto barulho para que duas pessoas pudessem estar aqui a se comunicar à distância, falando muito sobre um mundo caótico, ameaçado de grandes desastres ecológicos por conta do desejo de produzir progresso.Em que se baseia para dizer que o terceiro mundo quer ser colonizado? Mas o que falei foi que europeus colonialistas não são exemplos de civilidade e boas maneiras. E tudo que o senhor apontou como negativo aqui não é privilégio nosso. Religião como instrumento de dominação, ligada a reis e depois governantes tanto foi a Católica como a Anglicana, que surgiu para servir ao rei e depois continuou a existir sob o controle dele próprio. Pior ainda os Quaker que a Inglaterra exportou para a América do Norte e lá seu fanatismo atingiu níveis interessantes. As posteriores Presbiteriana e Batista também tinham umas sutilezas que agora o Bush resolveu adaptar a seu gosto, atribuindo a Deus, a iniciativa de lhe indicar o caminho e com a história do criacionismo querem ver Darwin morto. Cada qual com seus ranços. O modelo de educação norteamericano deve estar falhando, pois volta e meia tão matando gente em escolas, crianças que matam outras, e não é pra roubar. E aquele brinquedo da cadeira elétrica, onde a criança comanda a execução em que o condenado tem todas as reações, treme, os olhos reviram,etc. Os japoneses tb. tem uma cultura bem sádica, basta ver desenhos animados que já existem há bons vinte anos. Heróis na defesa dos pobres já tivemos Robin Hood e Jesus Cristo inclusive. Não é privilégio de povos americanos, com seu Zorro. Esses mitos assim engrandecidos cumprem a função de acalmar os que sofrem, acalmar o rebanho, pra proveito do pastor. E com bolinhas de manteiga ou sem, algo realmente relevante na vida das pessoas, neste nosso mundo infelizmente não existe a tal Pasárgada.







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