quarta-feira, julho 18, 2007

O TAMANHO DO VÍRUS



Adrenildo bebeu o último gole de café indo em direção ao computador. Largou a xícara na mesinha, sentou-se e ligou, ficando a tamborilar com os dedos ao lado do mouse, olhando para os lados pra ver se se distraía enquanto custava a aparecer seu nome. Aí clicou, clicou e entrou no site. Sua mulher perguntou lá da cozinha se ele ia tomar banho agora e ele só gritou um não meio impaciente. Então ela resmungou e foi para o banheiro.O homem estava louco por uma loira cuja foto mostrava ângulos inusitados de sua geografia. E ainda por cima se chamava Lucimara, o nome de uma ex que ele nunca tinha esquecido. Lucimara, ah, como você é linda! exclamou sorrindo. A moça, além da foto, ainda escrevia uns versos picantes onde havia sempre aquela receita de ingredientes sensuais repetidos, só variando o ambiente, algum detalhe de um lirismo barato e palavras grosseiras. E as performances, os toques, os de lado, por cima, por baixo, teu mel , meu suco, suco? E aqueles terríveis eufemismos para se referir aos genitais femininos, como gruta, fenda,e sei lá o que mais. Olhada assim, de forma fria, essa conexão de falos que entram em vaginas, em incansáveis malabarismos verbais e visuais, lembram um brinquedo onde a criança passa horas sem se entediar, colocando coisas e as tirando novamente. Assim nossos adultos crianças se ocupam com este divertimento mecânico, enquanto gente realmente crescida procura um parceiro e mostra competência discretamente. No sexo virtual é tudo muito animado, nenhuma falha, porque nas histórias pornográficas ninguém tem incontinência urinária, ejaculação precoce, ninguém tem dificuldades que os comuns dos mortais costumam enfrentar. E parece ajudar muitos homens a fortalecer sua imagem masculina, o fato de frequentar tal ambiente como exercício de macheza, da mesma forma que ainda se frequentam bordéis. E com visibilidade garantida ao deixar seu nome registrado como leitor.Assim como nos contos de fadas, as histórias de sexo virtual só oferecem momentos felizes. E com suas estratégias que levam muita gente a se derreter diante de uma máquina, podem provocar sensações fortes, onde o sujeito ofega e vai ao delírio na maior solidão. Nesse ritmo, nosso amigo estava já em alta concentração, suando, quando batem à porta da sala que ele tinha trancado logo ao entrar. Era sua sogra que morava com o casal. ELe disse a ela que agora estava no meio de uma tarefa, falava depois. A mulher desconfiou daquele segredo, porta trancada e fez a volta por fora indo até a janela espiar. De onde ela estava, só via até a altura da mesa e não via a tela. Reparou que o genro suava muito parecendo que ia grudar o nariz na tela, e falava coisas que ela não entendia. De repente, ele se pôs a sacudir o corpo e a gemer feito doido. Minha Nossa Senhora, Laísa, minha filha, e correu pra dentro gritando pela filha. Esta surgiu rápida e foram as duas pra porta bater. Mas o rapaz estava tão envolvido que não se deu conta. Nesse momento já tinha chegado o vizinho de apartamento que com uma chave tentava abrir a porta e logo ela foi empurrada e os três caíram pra dentro, olhos arregalados, que foram baixando até darem de cara com a nudez magricela da cintura pra baixo, as calças lá nos pés. Houve um terrível silêncio de segundos eternos. Então Adrenildo respirou fundo, puxou as calças pra cima, erguendo-se um pouco da cadeira e disse na maior cara de pau: - Mas como faz calor, não? Eu mesmo tinha baixado as calças para tirar e ficar de cuecas, nem ouvi vocês batendo, e apontando em direção ao computador, onde um close na retaguarda da loira que olhava pra trás sorrindo, se estampava enorme: -Este trabalho aí me deixou arriado, nossa, estou mesmo cansado. Percebeu os olhares mudos e sérios e gelou. Girou a cabeça devagar e , vendo a figura denunciadora, sorriu amarelo e ainda falou, antes das duas irem pra cima dele: olha só, olha só o tamanho desse VÍRUS... .

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