terça-feira, julho 17, 2007

INSUBMISSÃO

Como diz Hugheim ( SGARBIERI, 2003), as mulheres é que, assumindo o poder e sem deixar de ser mulheres, tornarão o mundo de novo habitável.(p.125). Felizmente, o dínamo criativo das transformações é encubado nas entranhas do feminino de ambos os sexos.



Você não quer minhas unhas vermelhas,
mas vou tirar teu sangue ainda que me doa,
e vou pisar teu nome, com mil maldições!
No mesmo coração onde se aninham anjos
na certa há demônios, basta provocar.
Você não quer a minha insanidade,
meus versos estufando as velas
por estas águas do sem fim onde navego.
Você me quer domesticada fera,
por que tem medo do meu aconchego?
Você desenha o meu arco-íris,
escolhe os ventos que levantem meus cabelos,
mas não os quer erguendo minhas saias.
Eu já aprendi como dobrar tuas vontades
e te amarrar bem firme neste moeirão,
farei de ti escravo espancado,
por um feitor cruel e bravo,
que açoitará você no coração.
Não há melhor ensinamento neste aprendizado
do que fazer beber na taça do desprezo
e exigir perdão em altos brados.
Você me quer domesticada e então,
por que tem medo de se ver tão preso,
atando o laço ao meu pescoço esperas,
botar cabresto e fugir dos riscos.
Que não te venha entanto essa quimera,
pois não serei escrava em tua casa,
nem uma fria estátua nos teus moldes.
E toma tento, anda, vai mais devagar;
se te enterneces com tal rapariga,
feita nas cores pelos teus caprichos,
sei que bem outra te apaixona e tanto,
a que provoca e mostra suas unhas,
te faz escravo como qualquer bicho.
Deixa que eu solte meu cabelo ao vento,
que a chuva molhe o meu corpo inteiro,
e ao repousar nós dois no bem mais tarde
você me abrace docemente terno
e tua cabeça no meu travesseiro,
as minhas mãos a deslizar fazendo
muito carinho nestes teus cabelos,
num aconchego neste fim de tarde,
o sol morrendo lá pro fim da linha...


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