sexta-feira, março 23, 2007

EXTRA, EXTRA, VEM AÍ O PARAÍSO I I

Nosso mundo virou um imenso reclame. Fomos transformados num interminável catálogo de sim e não, onde grassam todas as proibições possíveis de um lado, e de outro, uma permissividade jamais sonhada nem nos melhores dias de Pompéia.Mas dizer um não que se preze é ofício que exige, no mínimo, uma posgraduaçãozinha , mesmo tendo sido feita na Faculdade da margem esquerda do Amazonas, ou no novo intensivo noturno por correspondência, o INC, aprovado pelo MEC nas brechas da lei. Essas proibições caem como canivetes sobre nossas cabeças. Não dá pra abrir um jornal, ligar a tv,olhar uma revista sem lá encontrar o Dr. Entendido falando, desde a melhor maneira de cortar a unha do pé, até o jeito mais apropriado de tirar a casca da banana. Espetados de um lado e de outro, ora pelo que é correto, ora pelo que não, nossa vida vai-se transformando num verdadeiro corredor polonês. Temos informação em excesso. O mundo vem abaixo na voz do homem do jornal das oito, muito sangue escorre e já é rotina ver quantos acidentes mataram quantos. Dizer que notícia boa não vende é chover no molhado. O Mario Quintana servindo pra publicidade disfarçada. Muita gente faturando por conta do poetinha. Quem foram os escritores que venceram o concurso Mario Quintana? Não pensem em ver esse tipo de informação facilmente. Tem que garimpar. E, de repente, vejo-me desligando a tv freneticamente, jogando jornais novos no lixo, sentindo-me sufocada diante do micro. Seu enorme olho me trespassa sem piedade. Não sei se é o cansaço da madrugada, mas fico impotente diante dele. Sua voz em zzzzz contínuo revela a estrutura que informa e registra,sem sangue nem estremecimentos, e eu o odeio e invejo ao mesmo tempo. Esse microondas que aquece os pratos pré- prontos da culinária internacional da Net se posta a nossa disposição como um cão obediente,sem abanar o rabo,mas impávido na sua servilidade de máquina. Ele chegou pra ficar e está se encarregando de minar o bicho existente em cada criatura. Uma legítima caixa de Pandora sob o ponto de vista relações humanas. Sobreviveremos?Foi-se o tempo em que a gente podia ser indiferente. Qualquer movimento que se faça desde a hora em que botamos o pé fora da cama, está inserido no contexto. Uma vez de volta ao mundo real, despencamos do estado onírco para a engrenagem onde estamos devidamente numerados, fichados, neste batalhão de insanidade organizada. Bons tempos aqueles onde não havia esse bombardeio de isso é bom, isso dá câncer, dá celulite, retém líquido, longevidade, qualidade de vida ,calorias,campanhas contra e a favor, protestos...Me faz lembrar da frase de um amigo que gostava de brincar com as novidades. E era a década de 70: "Esse negócio de educação moderna é bobagem. Pai tem que dar é bóia e uma tunda de vez em quando e pronto." Tal afirmação remete ao ideal da simplicidade: o sol nascendo todos os dias, a gente trabalhando, alimentando-se, às vezes festejando, fazendo orações, consolando um amigo, comendo uma talhada de melancia, dormindo a sesta, até morrendo melhor na própria cama, com pessoas conhecidas te olhando, e no mais o barco segue que as águas se encarregam. Estamos sufocando em nosso próprio lixo, mas com muita classe, com muito detergente, muita estupidez travestida de cultura. Não há purpurina que baste para tanto exibicionismo estéril. Que até Deus se cansou desse povinho e foi curtir umas férias, quem sabe nas ilhas do Paraíso II, onde terá criado um novo casal, não, ele não faria isso. Bem, só Deus sabe... E cá pra nós, seria aquele furo de reportagem! O

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