sábado, dezembro 08, 2007






COMO FOLHAS AO VENTO




E já entrou dezembro, enquanto este novembro se descortinara sombrio, mas de repente tudo parece ter serenado, apesar de que feridas mesmo cicatrizadas sempre permanecem como marcas nos caminhos. Voltamos a conversar mas agora tudo que foi tão intenso começa a me parecer distante e um tanto irreal. Acho que aqueles momentos tão nossos, ternos , parecendo tenra verdura recém colhida, já não têm vigências em nós. Somos agora adultos nessa caminhada. Ficam para trás aquelas efusões que pareciam nascer de um universo à parte de nós mesmos, um lugar onde ainda ninguém tivesse tocado, um paraíso a ser
descortinado. Nos perdemos dele ou ele é que nunca existiu? Paraísos são fugazes sítios onde fazemos morada provisória e onde deixamos a fantasia nos resgatar em nossa perdida integridade de seres sonhadores de outra natureza para nossos corpos de uma solidez um tanto incômoda. Então desejamos fluir, ganhamos asas e voamos sobre nossas limitações. Seres sonhados, esvoaçamos em torno da luz na dança do amor, da superação dos limites . E, quando as luzes se apagam, nossos vôo vai perdendo força e então caímos como folha de papel na ventania, lentamente, sem pressa de chegar ao solo frio e desconcertante que sempre nos aguarda.

sexta-feira, dezembro 07, 2007




B E I J O ( N O ) S I N G U L A R




" ...foi em um dia muito distante, há mais de vinte anos, eu sonhei com você numa noite de festa, em que usei luvas brancas de cetim e um lindo vestido azul. Mas você não apareceu e agora, quase esquecida do sonho, percebi de repente que a vida me pregou mais uma peça, colocando você tão visível, tão aconchegado, tão real, mas a mais de mil quilômetros de distância..."



Eu beijo você no singular, sim,
de uma singular forma, que guardei
só pra dar a você, neste momento
e este momento de um tempo
que se recria em presentes infindos
está clamando por encontros
está soprando ao meu ouvido
um sussurro endemoniado de
prazer e deslumbramento...
Quero você pra sempre em
nossos estranhos caminhos.
Quero você inteiro e adivinho
o teu cheiro como o cego
percebe a cor, tocando formas,
como o surdo escuta os silêncios
e descobre neles vibrações reveladoras.
Quero o teu beijo no singular, olhos fechados
ou abertos, ah, adivinho o brilho
e a intensidade do teu olhar (faminto)...
E se minhas mãos tremem e minha
mente se confunde só em ver teu
nome escrito trazendo mensagem,
então como falar que isso é virtual?
A linguagem do meu corpo é real
as mãos frias e trêmulas são reais,
o coração acelerado não é real??
E o meu beijo no singular torna-se
real quando você o recebe
e me beija também...
... REAL...singular, "singularíssimo"...



quarta-feira, outubro 24, 2007


URGÊNCIA

Pois a primavera dos encantos logo se vai
em asas de cigarras cantadeiras no verão!
E quem colheu sua flor, viveu seu momento,
seguirá em frente tentando a sorte na nova estação.
E quem muito quis, mas não fez sua hora, ficará tão só,
e tudo que terá restado
será o frio de horas vazias,
retalhos descosturados
e uma dor funda dentro do peito sem remédio...

sexta-feira, outubro 19, 2007

À MINHA JANELA





... e eu gosto quando você vem nesta tua madrugada das três da manhã e me abraça com palavras "amanhecentes", me deixa um beijo nesta janela onde ao acordar inda agora, seis da manhã, venho receber um bom dia que me esperava quietinho, caloroso, instigante, (você é perigoso...!) E eu gosto de me "queimar" neste fogo que você provoca assim tão mansamente, um verdadeiro paraíso entre labaredas...
Beijo,
mais beijo ...

segunda-feira, outubro 15, 2007

VOA MEU DOCE PÁSSARO

VOA ÀS DISTANTES ESFERAS

LÁ ONDE A MÃO NÃO ALCANÇA

E ONDE AS ÁGUAS CRISTALINAS

RUMOREJAM NAS CASCATAS...

VAI E VOA UM VÔO ESPREGUIÇADO

UM VÔO DE SUPERAÇÃO

COM ASAS DE VELUDO

E OLHOS DE CRISTAL

VOA SINUOSO E VADIO

SOBRE AS MAZELAS

DESTE MUNDO...

LEVA CONTIGO A ESPERANÇA

DE DIAS ALVISSAREIROS

E NOITES ENCANTADAS

PAIRA SOBRE AS MADRUGADAS

O DIA VIRÁ COM SEUS

CAMINHOS ENTRECORTADOS,

E VOCÊ ESTARÁ FINALMENTE

LIVRE, VÔO RASANTE,

SORRI DO VELHO MUNDO

LÁ EMBAIXO...









PAPEL PICADO QUE SE PERDE PELAS SARJETAS


Isso de crianças darem vida a coisas inanimadas, nomeando-as, é bem interessante. Na verdade, esses seres são parte do cenário onde se desenrola a existência das pessoas. Lembro que na minha infância, havia uma estátua de Cristo enorme, feita em metal escuro, no cemitério defronte à minha casa e ela representava um grande pavor e, ao mesmo tempo, uma enorme atração. Aquele cemitério em si, é um ser que integra a minha história como cenário e referência, assim como a casa onde me criei. Com o passar dos anos, tais coisas se cristalizam na memória e sem elas já não conseguimos compor os momentos então vividos.
Daí a importância da conservação de prédios antigos, da não destruição sumária de tudo que constituiu nosso espaço vida em tempos passados. E para as novas gerações é importante essa ligação entre o passado e o presente que é possível com a existência de museus, bibliotecas, mas os prédios, as ruas, tem sua dinâmica e andar por caminhos antigos é pisar o chão de nossos antepassados, é recriar no imaginário a memória com a qual vêm os valores e a visão de que não caímos neste lugar de pára-quedas, que somos parte de um processo, que somos resultado de uma longa caminhada. E que nossos atos se projetam sobre o cenário da vida e podem tanto construir quanto destruir. E essa mentalidade individualista surgida com a tal globalização está construindo uma sociedade egoísta, cruel , separatista e quanto mais cresce a divisão do espaço, quanto mais os condomínios fechados se isolam, mais cresce o sentimento de desigualdade entre pobres e ricos, tornando cada vez mais fácil considerarem uns aos outros seres de espécies diversas. Sendo assim, matarem-se uns aos outros, fica algo bem mais banal e corriqueiro, especialmente quando a pobreza cresce no país e multiplica os filhos de ninguém Outro dia eu transcrevi um texto da Nina Horta onde ela falava sobre os bairros de outrora, que é onde as pessoas das cidades grandes tinham uma espécie de cidade pequena onde todos se conheciam, conversavam e onde possivelmente pobres e ricos se tocavam. Quando eu era menina, a gente podia passar defronte às casas finas da minha cidadezinha, podia até ver para dentro delas, através das cortinas, pois não havia esse apparteid geográfico que isolou as pessoas em guetos de acordo com sua classe social. Pois como falou a Nina, até casas muito humildes estão gradeadas como fortalezas, o que dificulta o relacionamento e impede qualquer exercício de boa vizinhança. E quem está do lado de fora da grade muitas vezes não oferece perigo, poderia ser um contato interessante, mas fica também constrangida de ter acesso e passa reto. Dessa forma perdemos todos, os que se fecham, os que passam.
Estes cenários são uma triste consequência da ganância de muita gente que não pensa duas vezes em espoliar os outros para juntar uma fortuna maior. Desde o mais simples funcionário até o mais rico dono de empresa, fica bastante óbvio que existe sempre o desejo de ganhar, de "vencer" na vida, não ser um "looser" e isso passa pelo viés da arrogância e usura, da mesquinharia e egoísmo irracional, de uma compulsão a querer ter em detrimento de ser. A lógica da maioria das pessoas é bastante predisposta a raciocínios em benefício próprio, o meu separado do resto, preservado com vigilância redobrada. E enquanto tantos se dedicam a amealhar suas coisas, a vida se esvai, o tempo de ser feliz encurta rapidamente e tantos momentos interessantes ficam só no campo das possibilidades remotas e inatingíveis. A vida é um sopro, não vamos desperdiçar a chance de viver intensamente, e vibrar positivamente até o mais fundo de nossa condição humana. O resto é papel picado que se perde pelas sarjetas...

segunda-feira, outubro 08, 2007



Logo estarei completando mais um ano de vida. Estou recebendo flores!!!! Obrigada!!

sábado, setembro 29, 2007

Summer Time - Kiri Te Kanawa ( clique para ouvir)

UM VESTIDO BRANCO NO DESERTO


Ela chegou até aquela porta em forma ovalada tendo se esgueirado pelas estreitas ruelas, abrindo passagem entre a multidão que se movimentava sem nenhuma ordem naqueles espaços apertados, divididos com as tendas dos vendedores de tapetes, cerâmica e todo tipo de produtos existentes naquela região desértica. Usava um vestido branco de tecido leve e seus olhos buscaram ansiosos o espaço ao redor, como para se certificar de alguma coisa. Enfim empurrou a porta e entrou. O interior era claro e sem nenhum conforto. Havia uma mesa lisa, cadeiras rústicas e uma cama de onde um homem ergueu-se sorrindo e estendeu-lhe as mãos. Olharam-se por um breve istante e então um beijo longo os uniu, sendo seus contornos realçados pela intensa luz vinda de uma janela ao fundo, coberta por leve cortina transparente. Haviam esperado muito por este encontro após semanas, onde foram reconhecendo um no outro o nascimento de uma paixão tão ardente quanto aquele sol que queimava o deserto. Ele levou-a para cima da cama e num gesto baixou seu vestido pelos ombros e o fez com tanta vontade que acabou rasgando o tecido. Houve um momento de hesitação em que se olharam intensamente, primeiro surpresos e em seguida totalmente envolvidos por aquele fogo que queimava a pele e que os fazia impacientes há dias em realizar aquele encontro . Terminaram de se despir, enquanto procuravam-se desesperadamente, numa urgência aumentada por dias de espera, de olhares intermináveis quando reunidos em grupo para conversar, beber vinho e em que se continham a custa de muito controle, devido à presença do marido dela e de amigos que procuravam nesses momentos ouvir sossegadamente o som da própria língua, perdidos naquela região tão exêntrica para seus hábitos ingleses. Um vaso de flores amarelas sobre a tosca mesa, veio a ser então testemunha da tempestade cujos raios fulgurantes iluminaram tudo, quando aqueles corpos finalmente nus e entregues ao prazer de se possuirem encontravam seu êxtase. E assim ficaram por longos momentos até adormecerem profundamente. As orações vindas da mesquita acordaram-nos e ela saltou apressada vendo que já anoitecia. Ele, com muito carinho, passou a mão pelos seus cabelos, beijou-os e depois as mãos brancas nas palmas, e indicou-lhe uma pequena caixa de onde retirou linha e agulha. Pegou então o vestido com todo cuidado e com agilidade inusitada foi costurando o tecido rasgado, enquanto ela esperava sorrindo, vestida com suas roupas íntimas. As flores amarelas sorriam também. A cortina leve estremecia com suave brisa que já prenunciava o frio da noite. Terminada a costura, ele desceu o vestido pelo corpo da amada, pegando em seus braços, primeiro um, depois o outro, e passando pelas aberturas com cuidado. Cada gesto revelava agora uma ternura só possível entre pessoas que vivenciaram juntos o verdadeiro encontro das almas através dos corpos. Então ela se ergueu e beijaram-se longamente. Ela ainda olhou para trás ao abrir a pequena porta, e depois sumiu no burburinho que a noite iluminara com lâmpadas espalhadas como estrelas amareladas nas trilhas do mercado. Uma imensa lua cheia olhava pensativa para baixo, na sua sabedoria de velha dama que conhece os labirintos do amor e da vida. Mas nada poderia mais apagar a intensidade que unira os amantes para sempre, pra muito além dessas trilhas passageiras...

terça-feira, setembro 25, 2007

AINDA SOBRE POSSIBILIDADES...


Estava pensando em me candidatar a uma oficina de literatura. Seria uma forma de fugir da mesmice dos meus dias e oportunidade de crescimento e renovação. Mesmo aqui na Faccat, faculdades de Taquara, existem cursos livres. Pra começar, serve. Viu só? Você já me provocou o suficiente. Eu até falei que vou começar a frequentar um certo sarau de literatura que acontece uma vez por mês aqui na cidade. Eu preciso baixar a guarda e ser menos seletiva, do contrário vou mofar para sempre nesta casa. Afinal, se os versinhos não forem muito ruins e até há um piano por lá, quem sabe eu não acabe gostando?

segunda-feira, setembro 24, 2007



MEUS DESENHOS E O TEMPO EM QUE TUDO ACONTECIA COMO MÁGICA


Eu sempre gostei mais de fazer figura humana, não te contei das japonesas que pintei numa parede daquela casa antiga, onde morei até os dezesseis anos? Ainda bem que a minha mãe achava maravilhoso tudo que os filhos faziam e deixou sem problemas. Falando nisso, lembrei da sensação ao fazer aquele trabalho, aquilo que você falou com tanta propriedade nas escriturinhas, sobre o tempo em que as coisas aconteciam como mágica. Pintar naquela parede me trouxe uma sensação de que tudo seria possível, como se, daquele momento em diante, eu tivesse adquirido um poder especial, eu me senti plena, invencível, e tinha apenas treze anos. Preciso com urgência encontrar uma parede e abrir uma trilha nesta mata fechada que eu tenho visto à minha frente. E você se mostrando interessado por meus desenhos me deu uma grande alegria, hoje realmente é um dia lindo, porque o céu está limpo, há finalmente sol, coisas pendentes e uma que já tem dez anos, estão se resolvendo, eu recebi uma amável cartinha pela manhã e vou aproveitar ao máximo essa possibilidade de me sentir em estado de graça. Que você tenha também um ótimo dia !

sábado, setembro 22, 2007



ALEGRIA CIGANA, ALEGRIA INSANA


Esta música está em sintonia com meu estado de alma, estou vibrando em alegria húngara, se me entende, alegria cigana, sou mesmo uma cigana disfarçada de mulher comum. Ai , eu me adoro assim, totalmente insana, eu estou muito feliz, feliz, por estar viva, eu estou vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa




Tá certo, eu bebi muito vinho, dei muita risada, comi pizza com a gurizada, após ter me emocionado com um filme água com açúcar. Eu sou assim, bem assim, nenhum mistério insondável, alegria à flor da pele, após um dia de danação, eu sou assim, rio e choro em sequência e não me importo com a opinião de quem quer que seja. Estou do lado de cá dessa linha que você agora inventou, uma linha de contato inodoro e insípido? Ou uma linha de choques e explosões de sentimentos que não conseguimos conter? Tá certo, eu bebi muito vinho, os meninos até me filmaram dizendo bobagens, nós nos divertimos muito, muito, e eu navego nessas águas de juventude que eles deixam inundar minhas tristezas e logo estou mais leve, estou mesmo com uma sensação de vinte anos. Você bem que podia me fazer uns versos, uns versos bem bonitos, sem aqueles urubus agourentos ou o peso de lembranças e entulhos do passado. O passado é entulho que atrapalha. A vida está começando agora, na luz daquela estrela que vi ao abrir a janela, a vida começa nas esquinas todos os dias, nos olhares esperançosos, na trilha recém aberta, na grama recém plantada no meu jardim. Um novo dia começa a cada vinte e quatro horas e não vemos como o sol surge a cada manhã por estarmos muito ocupados com nossas coisas, nossos afazeres. Eu queria somente dançar pelas ruas, gritar, dizer palavrão, ah como eu queria, sim seria tão bom , eu não bebi todo esse vinho em vão, eu o bebi sabendo ser ele meu companheiro que sempre me socorre, sempre me faz transbordar, sair pelas bordas, e me sentir viva, muito viva para amar, amar muito, amar a vida, dançar meu tango particular.
Ah, o tango, beijos à luz de velas, perfume de jasmins, um vestido branco esvoaçante , sandálias leves e cabelos perfumados de cheiros agrestes. VOcê não gostaria de dançar comigo mesmo? A vida é um sopro, logo não restará ninguém nesta sala, as plantas estarão ressecadas, o piso empoeirado e o vestido restará esquecido em um móvel qualquer. E de nós só restarão as palavras, tantas palavras escritas, tantas vibrações contidas, você não quer mesmo dançar comigo?



Hungarian Dance No 5 (clique para ouvir)



ESTA HÚNGARA DANÇA


Alegria húngara, alegria cigana,
salto no escuro, beijos ao luar,
risadas, gritos, explosões de estrelas cadentes,
beijos na mágica noite de lua cheia,
mãos trêmulas, alma à flor da pele,
quero você com alegria de cigana
dançando com seu vestido de muitos panos,
com seus cabelos sedosos e cheirando alecrim,
girando, girando muito ao som dessa música
que enlouquece, que faz vibrar ,
girando nesta húngara dança
quero você no meu abraço, quero
você no meu laço, meu homem,
quero sua ternura em versos,
quero sua bravura e seu calor,
quero você como a flor que se
oferece ao doce orvalho da madrugada
no simples ato de cumprir seu destino,
na simples bem aventurança de ser
parte do mistéiro das noites que se
perpetuam por séculos,
simplesmente, sem recados,
sem avisos, sem condições...
Ouça essa húngara dança que
se expande pelos jardins
e exalta a vida em todas as sete cores do arco-íris!
Ouça essa húngara dança, mistério e doçura
através dos séculos,
coreografia das almas enamoradas,
chama jamais extinta,
chave mestra de todas as portas,
aconchego de corpos apaixonados,
raio de sol, verdes campinas,
cobertas de flores amarelas,
quero você meu amor,
quero seu beijo cálido e fremente
ainda esta noite, ah quem dera...
nós dois nessa húngara dança
a girar pelos campos em flor
a girar, girar, girar...




sexta-feira, setembro 21, 2007

GEADA


doce verde açucarado,

cristais transparentes,

cacos de vidro, prismas,

aquarela, glíter delicado,

purpurina no vestido de fina gaze !

O MEU E A RETA


Entrei na avenida
tão comprida,
fiquei à mercê
de toda a artilharia
quem diria!
estremecendo de pavor
com as mãos cobrindo
meu derrière ali na pontaria.

Segui em frente
não sem muito medo
de sentir as balas
zunindo e os torpedos
e eu ali de bunda em riste
sofrendo mui calado e triste
o ataque deste povo azedo.

Fiquei na reta do inimigo.
Querendo disparar, não posso,
desvios não há, é só perigo...
Meu Deus vou rezar um pai nosso,
que a coisa é séria, to perdido,
lá atrás diviso o arsenal medonho
e as pistolas com seu cano erguido!
Estava eu lá bem sentadinho,
tão bem guardada a minha entrada,
"entrada não, é só saída"
isto já era, agora to perdido,
andando a esmo na avenida
e o meu na reta sem saída!

Ouço zunir do inimigo a lança,
com pontaria para mim avança,
já sinto o ardor da vossa impiedade
célere entrando pela minha intimidade.
Levarei pra mais de mil desses vis dardos
que a reta é longa
e o traseiro largo,
um belo alvo de ebúrnea cor,
lua gelada de tanto pavor!

Quem tanto fez, tal qual aquele rato
que ao moinho tanto foi e então,
ele acabou perdendo seu focinho,
e eu assim nesta batalha inglória
fico na lama sem qualquer vitória
e de lambuja perco o busanfão !

Pois vejam esta triste hitória
peleja desigual, que lástima,
por que fui eu mexer com o vosso,
que poderoso sois e eu pobre moço,
ainda imberbe, meio bobo e fraco,
quero que apenas poupem o meu saco,
que ainda hei de ter família,
não fui só eu que lhe comi a filha!

Atrás de muitos se bandeava ela,
querendo ver nossas intimidades,
dizia a todos que se casaria
com o mais dotado, tudo em segredo,
muito dinheiro seu pai com muito gosto
daria aos dois depois do anel no dedo!
Todos fugiram pra bem longe agora
só fiquei eu, me salvem nesta hora!

Por que caí nesta armadilha,
nem foi tão bom, quando ela,
meteu as mãos embaixo na braguilha,
olhou aquele pirulito armado,
fez um muxoxo e disse este coitado,
com essa cara de pastel sem carne!

ANDRÉ GONZALES

quinta-feira, setembro 20, 2007

Eu deixei ir a carta que foi "sem assunto" por descuido, ironicamente, parece. Sem assunto ,quando coloquei tanto de mim naquelas palavras. Nem sei se devia te dizer que fiz dela uma homenagem a você, lá na minha página. Mas um texto a gente apaga com um clic e está tudo limpo outra vez. Estes teus sonhos são muito bonitos, mas eu venho de muitas perdas, do passado e de pouco tempo atrás, tento sobreviver e preciso ser dura pra não despencar no precipício. Preciso abrir meu caminho com pá e picareta, imagens nada poéticas, mas muito de acordo com a biografia de uma sobrevivente. Hoje foi um dia duro pra mim. Um feriado, muita chuva, sufocante chuva. E dentro desse sumidouro, eu consegui me debater e escrever pra você, tentando te dizer de como me emociono com a tua forma de ser homem, escritor e pessoa encantadora. Você fala de coisas bem concretas, alguém com você que teria um ateliê de pintura. Ironicamente, eu nunca te falei que desenho muito bem. E eu falo em arrancar a armadura que aprisiona, fugir da idealização. Quando eu falo em perder-me quero dizer que quero livrar-me de correntes impostas por condicionamentos. Ir por aquele caminho de chão batido que logo esbarrava numa curva fechada e que aparecia nos meus sonhos como um desafio e uma promessa de liberdade quando finalmente eu seguiria por ele e descobriria o que encontrar depois daquela volta , respirando os ares mais puros. Eu sei, você já me falou sobre ter que estar inteiro pra poder viver algo com alguém. E eu nem sei o que serei ao conseguir colar todos os pedaços Da ponta de cá continuo olhando a curva do caminho, quem sabe eu não demore a descobrir o que tem logo depois daquela volta?
*** Para você, é claro, um pouco desse momento em que, estando ao largo, ainda assustada com a escuridão, o meu barco se inunda de uma luz repentina, um insgiht, um clarão de farol sobre o mar revolto dessa recém iniciada travessia.***


... Então escrevo para fazer "um simples registro " da grande emoção que tem sido ter você na minha casa virtual, e da grande transformação que se realiza em mim percorrendo as trilhas que vai abrindo à frente, com seus escritos, com suas cartas. E o que você talvez não tenha percebido ainda é que nesta aparente "fuga" de si mesmo, nesta inquietação que o leva a sentir-se sempre dividido, você está na verdade construindo uma pessoa nova, até a última centelha de vida, pois é assim que acontece àqueles que não se conformam em viver como boi carreiro, ruminando a existência, àqueles que descobrem a duras penas como ir se livrando dessa couraça de medo dentro da qual se debatem. E à medida que a vida vai virando morte, dessa armadura imposta vão arrancando os pedaços e vão se livrando dessa idéia falsa de "inteireza" que os fazia prisioneiros. Isso realmente assusta, faz a mente espernear na sua lógica comprometida com preservar o entulho acumulado por anos de ruminações de renúncias, de desencontros , mas precisamos nos livrar logo de todos os nós destas amarras e perceber que não somos aquele que pensávamos ser. Você não é mais quem foi em outros momentos. Uma obviedade que é difícil de engolir. Você dividido em dois mundos quer, na verdade, evitar o encontro com a nova pessoa que já é, e aguarda ansiosa por você. Eu luto por algo, não arredo pé de tal intento. Eu luto por entrar no labirinto sem nenhum fio para me trazer de volta. Pelo menos no plano das idéias já ficou claro pra mim que preciso me perder sem medo, claustrofobia reveladora esta minha, para encontrar todas as saídas. E já comecei a arrancar com os dentes a couraça que me tolheu os movimentos e fez da minha beleza de ser humano um ser disforme e arredio. E isso dói muito. Ah, isso dói. Mas é um caminho sem volta. Já me fiz ao largo, quem sabe o teu barco cruze com o meu... viajantes que somos nesta dobra do tempo. E em gostando de você, de um jeito ainda novo pra mim, sei que estarei aprendendo a gostar de mim mesma, uma unidade possível? E aprendendo com você a conhecer o outro, aquele ser masculino que sempre me fez recuar, eu vou reconstruindo dentro de mim a imagem de homem que eu não soube apreciar durante a vida, uma pena... Você dança comigo este momento? ...

sexta-feira, setembro 14, 2007

AGRADECIMENTO

(agradeço, mas dipsenso esmola)



Egos inflados adoram reverência. Adoram gente virando tapete pra eles pisarem . E, de preferência, tapetes com grande valor, não qualquer tapetinho reles de material sintético. De preferência um tapete de muito boa fibra, bonito, aconchegante, paciente, aquiescente. Sim, aquiescente. Esta é a palavra bonita pra significar subserviente. Mas o ego inflado que é realmente inteligente ostenta a mais deslavada simplicidade. "Imagina, quem sou eu para?" ou, "você nem olharia pra mim", ou "oh, não é preciso um grande intelecto, o que vale é o interesse em aprender..." . Nesta hora fica subentendido claramente que ele será o "professor". E aí você vai virando platéia na maior, vai virando tapete na boa, até que um dia você se toca e dá o estrilo. Se então você ameaça de se puxar da sala, aí vem aquela conversa de "mas você não me entendeu..." eu gosto de trocar idéias com você, não quero que você desista, e, afinal, não é sempre que você vai encontrar alguém que se disponha a trocar idéias, a ouvir suas histórias" Enfim o que ele não diz mas fica bem claro é que ele te fez o grande favor de te deixar paparicá-lo, de escrever pra ele incansavelmente, mesmo quando ele se mantinha ausente por dias. O que ele não diz é que adorou estar sendo mimado esse tempo todo por uma pessoa interessante , inteligente, atenciosa, paciente. E mulher. Ele só vê o grande obséquio que prestou a tua insignificante pessoa do interior, quando o ego mora numa grande cidade, já morou no exterior, tem vivências pra despejar sobre você e te deixar muda e humilde, bem do jeitinho que lhe faz gosto. Danem-se todos, eu quero minha vida de volta... agradeço, mas dispenso sua esmola...

quinta-feira, setembro 13, 2007

HUMOR


POR MADAME SATÃ






MIAUUUUUUUUUUUUUU....

Vocês lembram de mim? Eu sou o gatinho daquele retiro de velhinhos, aquele que estacionava ao lado do pobrezinho que iamorrer em seguida. Vai ver, algum herdeiro esperto me colocou lá e matou alguns entre os quais por acaso estava o seu querido progenitor . E depois inventou a história do bichano agourento, eu hein?? Mas a História está cheia de casos de matanças em lote como o fez a mãezinha do Imperador Nero, já que os outros estavam atrapalhando a passagem do seu filhinho e a imperatriz da China que mandou matar até o próprio neto, não me perguntem de qual dinastia, se Ching ou Ming, que isso pra mim é porcelana.
A última dos Sates vem na crônica de Doca Ramos dos CCC. Ela fala que eles estão testando um rato em laboratório que está com aquela doença que no Brasil só rico tem: o TOC

Não é o cúmulo do esnobismo? Enquanto por aqui se morre de doenças curáveis, de fome, eles têm um rato com TOC!!! Imaginem o roedor, cruz credo, imaginem ele evitando pisar nas linhas do piso... e ... tá bom, tá bom...



... O que importava era aquilo que nós ainda não sabíamos bem o que era e que agora não saberemos nunca mais, nunca mais...



PARA VIVER UM AMOR É PRECISO CORAGEM
Enfim tudo termina mesmo, por que ficamos sempre tão estarrecidos e desesperados quando um sonho se desfaz como neve ao sol? Ninguém nos obriga a nada, somos nós que nos atiramos mesmo com muita relutância a uma irresistível miragem impossível de ignorar? Somos nós que colocamos nossas carências ao sol, esperando serem preenchidas por brisas suaves, aromas exóticos, águas refrescantes e renovadoras. Asas ao vento, esperando alçar vôos magníficos. E voamos sim, voamos alto tendo sido agraciadas com uma brisa acolhedora e um vento encantador.
Dias de sol, dias de primavera fizeram rodopiar as folhas secas, afastaram as tristezas, descortinaram horizontes e fizeram acreditar que obstinação e zelo pudessem preservar o tênue laço, a tenra planta nascida após muita dedicação e paciência. Triste engano. Nada sobrevive à inconsistência promovida pela distância entre as pessoas. Nada sobrevive à tantas repetições de logon e logoff. Fica provado então que somos humanos demais para conseguir preservar um sentimento sem a presença física. Humanos demais. Isto pode ser traduzido como incrédulos, inseguros, impacientes, orgulhosos e fracos. Principalmente fracos. E talvez sem a convicção de nossos sentimentos suficientemente fortes para ter a coragem de virar o jogo. Duvidaram dessa minha capacidade. Mas eu creio que a teria. E tenho. Falta encontrar alguém que tenha a coragem suficiente de acreditar. E de merecer o que estou oferecendo.

terça-feira, setembro 11, 2007

Uma amostra da natureza em São Chico





DESPEDIDA, UM ATÉ BREVE NAS DOBRAS DO TEMPO


Vejo tuas belas mãos cruzadas sobre o peito

como pássaros recém tombados,

ainda intacta e estranhamente viva

a bela plumagem!

Tal Guevara naquela fotografia,

apenas fechados os olhos,

beleza moura de España

nas negras sobrancelhas...

Estás tão belo neste momento,

nenhuma sombra paira sobre tua imagem!

E quando te abraço pela derradeira vez,

ainda meu, em nossa cama,

tão mais junto estás

e tão mais vivo, mais resplandescente

nesta morte de todo digna, sem cortes,

sem cicatrizes.

E cresces em tal finitude

com o corpo ainda quente,

e assim pairas pra sempre em minha memória:

inteiro, exato, matéria viajante,

passageiro que não leva sequer o corpo,

pássaro errante e livre,

em recém nascida condição.






um lindo dia, após UMA NOITE A QUATRO GRAUS NEGATIVOS EM SÃO CHICO


... e voltando à cabana, dormi no quarto piso.Se olharmos pelo lado de fora e virmos aquele telhado ir afinando, não vamos acreditar que exista um quarto naquele triângulo estreito. E tem. Cabem duas camas de solteiro, ou uma de casal. E são na verdade três quartos. E durante a noite, eu me senti quase criança, naquele quartinho de brinquedo e então percebi que algo de mim que eu nem lembrava mais parece estar sendo resgatado. O corpo estava quente sob muitas cobertas, mas o rosto parecia congelar e isso me remetia mesmo à infância e a invernos perdidos na neblina do tempo, onde eu lembro de estar com mãos e nariz gelados e de um dia ganhar um acolchoado novo de meu pai, ele mesmo fora comprar num dos dois armarinhos da cidade, quando minha mãe, provavelmente, estaria muito ocupada com um novo bebê. Era revestido de um cetim com a cores diferentes em cada face. Ele vai me aquecer pra sempre, só de lembrar.
E você estava lá, mesmo sem saber, dormia em meus pensamentos, era uma lembrança de uma escrita que eu interpreto como você , mas era o que eu tinha, o que tenho e que não gostaria de perder, vai lá saber por que!


domingo, setembro 09, 2007

DOMINGO PÓS FERIADO, OU FIM DE FERIADÃO


O domingo vira algo que, pela lógica de semana de cinco dias , sugere um domingo em segunda edição, um reforço do usual dia do descanso da semana, quando temos feriado na sexta. Eu já fiz muita coisa, passei horas neste computador e o dia parece espichar-se como elástico de bodoque e eu só esperando a hora da pedra ser arremessada e poder respirar novamente, tendo a tensão estendida até o limite se desfeito com a mão soltando a pedra que vai zunindo em direção ao alvo. E até já escrevi pra você, o que não devia, mas afinal o que a gente devia ou não fazer nesta vida? Fazer e pronto. Pensar dá ruga na testa. Sofrer debilita as defesas naturais do organismo. Então, abaixo a tristeza, abaixo a preocupação, abaixo o sofrimento inútil !

sábado, setembro 08, 2007

E QUANDO A MADRUGADA VAI PELAS QUATRO...



Você tem o direito de se recolher e eu, o de esperar. Você se diz cansado, necessitando enismesmar-se com sua vida e eu me digo paciente, sempre pronta a esperar pela hora em que resolvas ressurgir de uma ausência. Para além das verdades e mentiras, estão as verdadeiras motivações de nossos atos. Bem adiante, geralmente onde nem nós conseguimos visualizar, lá para os confins da alma, redutos insondáveis e escuros, onde uma ancestralidade indecifrável regurgita seu alimento pegajoso, lá residem o princípio e o fim de todos os mistérios da alma. Que não gostamos disso, que não podemos passar por ali, que precisamos de tal certeza, lá nos perdemos em atalhos e suposições, em achares frequentes, onde o que mais aparece é uma repetição de enganos, de palavras gastas, com as quais traçamos caminhos circulares, e a vida então é sempre a mesma merda onde as perguntas parecem fazer parte de um questionário pré escrito e repetido à exaustão por gerações de seres que desembestaram nesta carreira ao sair do ventre materno empurrados por vigorosos músculos, gritando que não queriam nascer. E esta madarugada solitária carecia de muito vinho, que um descuido não cuidou de prover, e agora embriago-me de minha própria solidão, esguichante de palavras , rebrilhante de pontos fracos e idéias ruminadas como um pasto indigesto, que infelizmente não pode ser descartado sem muita mastigação bovina. Por que diabos você foi mexer com este meu caminho estático? Por que me foi descortinada esta ilusória manhã desconcertante pela qual enveredei afoitamente, esquecendo que ao anoitecer poderia estar longe e só, em terras estranhas? E eu quero achar o caminho de volta? E eu consigo viver sem este estado de constante estremecimento em que tenho me encontrado? Por certo que não! Por certo que não !

QUANDO TRÊS E QUATRO SOMAM SETE



... Olhai os lírios do campo, que não fiam nem tecem , mas nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles...

Desde os meus quase imemoriais primeiros momentos de lucidez lembro de gostar do número sete. E vale a pena lembrar que este número aparece desde tempos remotos da humanidade como um simbolismo de perfeição: 3+4= 7, o três espiritual mais o quatro matéria. O três masculino, o quatro feminino, sendo o primeiro o triângulo e o segundo o círculo, figuras que aparecem para simbolizar os dois sexos até os dias de hoje, e, conforme foi lembrado por alguém, resistem atualmente mais como figuras, tendo seu significado na história da humanidade ficado perdido em recantos pouco visíveis. O ser hermafrodita resultante da junção dos dois princípios, feminino e masculino, a perfeição buscada incessantemente? E não estaremos numa forma equivocada dessa busca, percebendo o amor como um fim pessoal e egoísta, não entendendo que ele só poderá acontecer em harmonia com todo o cosmos, quando compreendermos que para termos SETE, a soma do três e do quatro terá que acontecer em uma conjunção em compasso com o ritmo das águas, as fases da lua, a variação das marés, onde cada célula fará sua parte para o esplendor do todo, modestamente, despretensiosamente. Então apesar de toda a aceleração e aparente superfcialidade deste momento da humanidade, ainda sobrevivem em nossas entranhas,conectados a todo Universo,os imememoriais labirintos de sete caminhos. Mesmo encobertos por séculos de ruínas, três e quatro continuam à espera de se transformarem em um magnífico SETE. Mesmo estando amor e sexo banalizados em nossos dias por relações descartáveis e superficiais, tais elementos ainda sobrevivem intactos. E precisamos mergulhar fundo dentro de nós para ir removendo o entulho que impede a visão do paraíso. E precisamos compreender que nosso ser não existe desconectado do Universo, do trabalho comunitário das células, que, ao não entenderem sua função, ao desejarem uma independência egoísta, produzem a doença, tal como quando as pessoas que não entendem sua função como quem faz parte de algo maior, pensam no amor como algo pessoal, particular, um ser amado com quem esquecer o mundo, a quem possuir, não conseguirão vibrar em harmonia com o todo. Aprendamos com os índios. A humanidade adoeceu de egoísmo e medo. Então, iniciada a caminhada pra dentro de si, após muito procurar, lá descobriremos o que está escondido a sete chaves, o labirinto dos sete caminhos que têm saída. Aí nada mais será lamentado, nada poderá impedir o encontro de três e quatro, cujo movimento harmonioso com o Cosmo fará com que sejam atraídos para a mesma órbita, iluminados pelas sete cores do arco-íris. Aceitar a derrota diante dos entraves desse mundo acelerado e aparentemente sem solução, virar as costas a uma possibilidade de amar, é não saber que já estamos mortos ao nascer, que morte e vida são uma só coisa, olhada por dois lados como nos permite nossa visão dividida. Sendo assim, uma visão inteira da nossa condição nos diria tal verdade e o que ocorre é que a parte que é vida vai diminuindo à mesma proporção em que a que é morte cresce a cada dia. Sendo assim, entregar-se a um esquecimento voluntário será somente uma forma de suicídio sem morte. Mas nada impedirá que o processo vital vá em frente. E por mais que se diga desejar sumir, todos queremos ser vistos e lembrados. Mesmo o suicida dá seu último grito de socorro com o bilhete deixado, o que pode signficar também que ainda espera ser ouvido a tempo de não morrer.

terça-feira, setembro 04, 2007





COLHA SUA FLOR NESTA PRIMAVERA



Não percamos um só minuto, meu amor,
nestes instantes raros em que quase nos tocamos
diante desta tela fria, os olhos fixos nas letras
sempre à espera , e a dúvida latente que
fala de separações, viagens, fugas talvez.

Pois a primavera dos encantos logo se vai
em asas de cigarras cantadeiras no verão!
E quem colheu sua flor, viveu seu momento,
seguirá em frente tentando a sorte na nova estação.
E quem muito quis, mas não fez sua hora, ficará tão só,

e tudo que terá restado
será o frio de horas vazias,

retalhos descosturados
e uma dor funda dentro do peito sem remédio...

segunda-feira, setembro 03, 2007

PRIMAVERA A TODO VAPOR



Ontem à noite, como uma doce aparição surgiu sua foto na minha tela: conversa, li sobre ela. Eu estava muito cansada mas assim mesmo abri logo o quadro e, como sempre acontece, perco toda e qualquer criatividade, pareço um ator estreante sendo colocado no palco sem nem ter lido as falas e fico apavorada diante de você. Mas logo me refaço diante de tua querida presença, dizendo-me das águas vindo de direções opostas e misturando-se e tornando-se uma só água, dos encontros que sempre serão como o primeiro, que em qualquer fase da vida amar torna-se uma grande novidade. No espaço de tempo em que aguardo você mandar pra telinha mais uma fala, fico a pensar na interessante situação em que estamos vivendo separados por mais de mil quilômetros, mas trocando emoções, palavras, desatando amarras, e lá você vem me dizer que espera encontrar alguém com quem se tornar um só ente, um só ser em harmonia e muito encantamento. E tão rapidamente como surgiu, você me diz que precisa dormir e me deixa um longo beijoooooooooooo . Tudo está novamente quieto e percebo a linha frágil que nos une. Hoje já estou mais centrada, já te escrevi novamente... Talvez falemos ainda hoje à noite... Primavera a todo vapor!

domingo, setembro 02, 2007

NA SOLIDÃO DESTE DOMINGO EM MEU BLOG

E neste domingo nove horas da manhã, acordo com uma chuva primeiro muito forte, agressiva, e , em seguida, atenuando-se e permancecendo numa modorra de chuvisco bobo, que é salvo em sua monotonia pelo canto dos pássaros nesta primavera recém iniciando. Sinto o cheiro da natureza e meus pés descalços tentam fugir do piso frio cruzando-se e improvisando um suporte com o dedo grande do pé esquerdo. Ninguém me escreveu ainda, parece que pouca gente tem lido minhas escrevinhanças. Mas, envolvida que estou com este momento de minha vida, isso não me causa nenhum dissabor. Quem eu queria presente, permanece calado. E isso me sugere uma reflexão, mais uma, de que contatos virtuais têm essa possibilidade de ausências sem até logo, já que dificilmente teremos evidências de mentiras. O que eu passo para os outros do mim mesma, o que os outros passam pra mim e novamente redimensionado no decodificador de cada individualidade, pode criar quase uma nova pessoa, ou mais do que isso, exaltar qualidades inexistentes, criar desconfianças inúteis, enfim, somos todos eus para os outros, eus construídos com nossas palavras, com nossa benevolência pelos nossos defeitos, vontade de ser amados, admirados até. Tudo isso vai passando por minha cabeça na solidão desse Blog. Quem seremos verdadeiramente aqui e fora, onde o sol brilha e somos corpos em movimento e irradiando presenças destacadas no cenário das nossas casas, das ruas em que transitamos diariamente, dos pequenos dissabores e alegrias repentinas com som e imagem. E você que não vem, e você que tanto se resguarda. Uma geografia reticente. Uma explosão de sensibilidade e carinho seguido por um vazio sem fim. Contrastes. Que merda de vida, enfim!!!!!!!!!!!!!






AS EVAS AINDA SE DEBATEM


Até pouco tempo atrás pensei que soubesse quem eu era. Entretanto, tenho visto minha casa revirada e minhas certezas transformarem-se em grandes e cintilantes pontos de interrogação. Você e eu tateamos no escuro, como dois cegos soltos numa casa abandonada, ninguém no caminho, agluns móveis apenas, algum degrau onde escorregar. Sinto-me exatamente como algum minúsculo inseto cujas asas estão surgindo e "sabe"-se tão vulnerável, mas sente que algo muito forte o vai fazer ir em frente, esvoaçar por um espaço que lhe será oportunizado uma só vez. Cega e andando em círculos, quando você me toca de leve o rosto, e fala tão mansamente, eu quero acreditar que você é a confirmação do que há de melhor no ser humano, mas, quando, por algum movimento mais tresloucado, você toca diretamente em minha intimidade, aí algo em mim parece gritar muito forte, e me sinto tomada por medos não identificados, como se deixar tocar meu corpo seja ser marcada a ferro em brasa por alguma Flor de Liz de uma lei onde mulheres tocadas por dedos ávidos possam sofrer a perda de tudo que mais amam, possam ser relegadas ao mais sórdido recanto da aldeia, possam ser pisadas com justificativa. Ranço do pecado original, ranço do pecado contra a castidade totalmente assumido pelas Evas deste paraíso decadente? Mesmo aquelas que se dizem livres, no fundo amargam uma danação ancestral. E aquelas que se digladiam em versos obcenos são ainda mais desgraçadas, por só conseguirem seu prazer de forma assim pervertida, uma identidade de "perdidas".Talvez você saiba disso tão bem quanto eu. Talvez consiga até ver mais claro, por estar em posição de espectador neste inferno de culpa feminino. Mas eu não aceito facilmente as evidências. Preciso tirar a prova. E quando meu pensamento mais racional ri da fraqueza dos homens e sabe da fortaleza das mulheres, sabendo-os tão frágeis e com uma sexualidade tão diluída, sem evidências como a das mulheres, ainda assim meu peito se aperta sob a visão de mãos torpes me tocando, de criaturas vazias das quais eu não aceitaria tal intimidade e possíveis palavras depreciando meu caráter. Este é um inferno inculcado em nossa mente feminina, do qual enganosamente parecem estar se libertando as mulheres. Pois que agindo como predadoras sexuais, aceitando a cama de qualquer um, ou pelo menos tratando de seu corpo como um brinquedo qualquer, permitindo que o parceiro despeje sobre seu rosto suas secreções , não alcançará mais do que chafurdar em um terreno pantanoso onde nada se constrói, pois nada realmente vital e sublime foi tocado nestes exercícios de sensualidade superficial. Mas eu não aceito todas as evidências, já disse. Eu quero minha liberdade. Aquela que me foi sonegada em tenros anos, quando aprendi a me "defender" dos homens. Uma vaga ameça pairando no ar que vai crescendo e se transformando no monstro predador. E que, dividindo as mulheres em certas e erradas, terminou por dividir também os homens, fazendo com que com as suas esposas tivessem filhos e com as outras, o prazer.Eu quero de volta minha identidade de bicho mulher. Minha inocência manchada com preconceitos. Quero assumir o comando dos meus dias. E não deixar que nenhum homem me pise. E se me tocar, manter-me inteira sempre. E não ceder a nenhum invento que me vulgarize, que faça de meu corpo objeto de banalidades. Porque acho que meu corpo deve ser respeitado. E não vai aí nenhum moralismo encruado. Falo do respeito pela minha integridade, pela minha sensibilidade, pelo meu recato que nada tem de artimanha, mas é algo inerente à minha personalidade. Não faço questão de me valer de recursos sejam quais forem, além dos que a natureza me dotou. O meu maior afrodisíaco virá do meu interior, da minha capacidade de estremecimento, da química que se processa em minhas entranhas, da emoção de um olhar no meu. Mas não terei recatos ditados por preceitos ceifadores de minha natureza feminina. Serei mulher em toda a plenitude, o que não implica de forma nenhuma, em me submeter à modelos de conduta ditados por sordidez travestida de liberalidade. Não concederei a nenhum homem dispor de meu corpo para diversão barata. Porque também não buscarei o seu para este fim.Um novo paraíso talvez seja possível onde ambos, homem e mulher, estejam presentes para um encontro sem reservas, na plenitude de sua capacidade de dar e receber amor.



quinta-feira, agosto 30, 2007

O ESPANTALHO E OS MACACOS

Lula passou a receber pensão por invalidez após perder o dedo mindinho em um torno. Depois, ganhou outra aposentadoria na condição de "anistiado político" e passou a receber R$ 4.627,38, como se vê no extrato emitido pela Previdência Social em junho último.
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Deixa o Lula ganhar o seu prato de bóia em paz. E qualquer brasileiro que enche a boca para falar dele, e esse tal Claudio reaça inclusive, se tivessem direito a qualquer coisa iam correndo exigir. Na verdade nem eu nem você, nem este Claudio nunca trabalhamos numa metalúrgica, não pegamos no pesado, não perdemos dedos nem fomos presos políticos. E se eu tivesse sido perseguida pelo regime, pegado cana, eu ia exigir o que a lei diz que deve ser pago. Por que o Lula é diferente? Que pobreza esses jornalistas FDP que se prestam a tais papéis de fofoqueiros a serviço do poder. E olha o texto que segue, vais perceber que a esquerda está bem longe de Lula. Ele na verdade é o espantalho que ficou na horta para enganar os trouxas dos "passarinhos" , passando por gente de verdade. E enquanto muita gente grita Fora Lula, muito "macaco" está levando o milho.


terça-feira, agosto 28, 2007

NÃO VOU DESNUDAR-ME EM QUALQUER ESPELUNCA

Não sou mulher de me desnudar em qualquer espelunca. Não esperem que eu vá mostrar minha intimidade em qualquer local prosaico e mal cheiroso onde as letras são vilipendiadas diariamente, como são a maioria dos sítios de literatura chamada erótica. Eu almejo locais mais apropriados para revelar as secretas histórias que eu protagonizei, para delirar sobre viagens, amores, vidas, esperanças e tal. mantenho uma postura contida, pois a linha que divide os eróticos dos não, fica um pouco aquém do desejado. Dessa forma, não poderia soltar os bichos mesmo literariamente, como o fizeram escritores de nível, sem ter que ser julgada ao pé da letra e mandada pro outro lado da fonteira, onde coexistem as mais variadas formas de grosseiras manifestações da literatuara de porta de banheiro público, que me deixariam muito incomodada e onde jamais aceitaria estar incluída. Fico, então, com a literatura digamos assexuada, romântica, exótica, até meio doida, mas sem o colorido da presença do sexo, que seria fundamental para dimensionar todo o percurso do ser humano sobre a terra, pois do sexo fomos gerados, e é ele que move todas as coisas. e me permito então uma insanidade colorida, persongens anticonvencionais, sem palavrões, nada das mazelas da sociedade nos seus meandros mais contundentes. Fico num palavrear poético, falo de sofrimentos e dor de amor, de dor de ausências, lágrimas e sentimentos elevados. Mas longe de mim aceitar o texto onde o sexo seja tratado como persongem principal, explícito, repetitivo. Não me entendam mal. Não falo dej pornografia. Já vi escrevinhadores de poronografia referirem-se a Nelson Rodrigues como alguém que joga no time deles. Que sacrilégio. Em primeiro lugar, ele tem uma obra repeitável, em livros, com o tratamento das mais variadas expressões de sexualidade, doentia, banal, mas com uma abrangência, uma visão profunda da alma humana, afinal, uma obra de arte. Como alguém que escreve textos de uma página, que são pequenos contos ou até uma penca de versos, cujo tratamento é vulgar, pobre e explicitamente pornográfico, o que quer dizer que sem profundidade, sem análise , linear em histórias vulgares, onde o autor se debruça sobre cenas explícitas e vai assim até a última linha, pode sequer pretender se comparar a escritores como ele? É o que prova a incapacidade e a estreiteza de visão de tais pessoas.
Portanto, escreverei neste blog, aqui publicarei o que julgar de boa qualidade. Aguardem!

sexta-feira, agosto 24, 2007

PODEMOS CHAMAR A PORNOGRAFIA ENCADERNADA DE LITERATURA?

Alguém está apresentando um panorama de literatura erótica ou pornográfica। Cita autores como João Ubaldo Ribeiro, fala de pornografia valorizada por encadernações, apresenta entrevista do ministro que escreveu um livro que teria cenas eróticas . Vou logo avisando que não tenho a menor intenção de patrulhar ninguém, mas é um assunto do qual tenho pouco conhecimento, até por não gostar de literatura erótica।E mesmo autores reconhecidos como Ilda Hilst por exemplo, apesar de seu grande talento e de seu realismo, digamos assim, tem muito a ver com uma personalidade perturbada por um relacionamento incestuoso com o pai e uma vida de moça rica cheia de histórias de desajuste. E textos eróticos na internet, pelo que tenho visto, não passam a maioria de simples e diretos apelos. Sem falar em conteúdos violentos e criminosos como pedoflilia e estupro. E alguns já tiveram o displante de citar Nelson Rodrigues como um dos seus pares. Que sacrilégio. Pra mim, literatura não pode ser rotulada como erótica, literatura e boa literatura vai conter este tema assim como ele existe na vida das pessoas, fazendo parte e não sendo uma obssessão e um objetivo. Isso é pornografia. Se está na moda, que fazer? Eu ainda prefiro ler as portas dos banheiros, além de tudo é gratuito.
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E NESTE APANHADO SOBRE O MERCADO LITERÁRIO DA LITERATURA ERÓTICA FOI CITADA A TAL BRUNA SURFISTINHA, UMA MENINA DE PAIS RICOS, DESAJUSTADA, QUE FOI USADA PRA RENDER NESSA TAL "LITERATURA" AÍ VEM O KIA E DEIXA SUA PIADA : LOGO ESTA TAL BRUNA ESTARÁ OCUPANDO A CADEIRA 69 DA ACADEMIA DE LETRAS.

Por que VOCÊ não aproveita a idéia e faz um apanhado humorístico dessa nova onda literária que é um lixo importado, pois parece que li um dia la na sua página sobre o fato de as antigas cantadas estarem sendo consideradas demodée, e acrescento que também o erotismo essencialmente brasileiro não consegue existir sem boa piada.
Lembra das pornochanchadas de autores brasileiros? Era uma descaração mas que nos matava de rir। Não tinha esse cunho neurótico dessa pornografia de lieratos ou de mocinhas desajustadas de famílias ricas que resolvem botar a público seus desvios de conduta. É verdade que sexo está na vida diária, mas convenhamos que ter orgasmos diante de uma tela é um tanto neurótico para meu gosto demodée. Kia, você ainda tem muito a dizer sobre isso. Aguardo a crônica॥ Beijos!!!

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Ninguém fica indiferente
em relação à chamada literatura erótica, talvez deva ser melhor explicado. O meu não ficar indiferente resume-se a sempre que o assunto surgir, dizer o que falei acima: literatura pra mim é algo complexo, uma vez que trata da vida humana em todos os seus aspectos. Dentro dessa vida a sexualidade é algo realmente importante e não há como escrever um bom romance, criando personagens assexuados. Nem como ignorar a dimensão sexual no relacionamento humano, com todos os matizes, infelizmente presentes e especialmente visíveis nos prontuários médicos e policiais. Entretanto todos sabemos que a arte em geral está sendo abarcada por uma máfia de donos do negócio, isso inclui pintura, música como tb. letras, que é o nosso assunto aqui. Diante disso é óbvio que essa literatura de consumo erótico ganha terreno e rende muito dinheiro a quem explora os vícios, pois que consumir pornografia pra mim é um vício como qualquer outro, vício da solidão,enfim, como beber, fumar maconha, consumir êxtase, freqüentar prostíbulos, e longe de mim querer crucificar quem o faça. Mas não posso concordar que tais textos, feitos com o único intuito de satisfazer neuroticamente o corpo, sejam literatura. Como já falei antes, literatura de ficção, no momento em que trata da vida humana, não poderá excluir sexo, sob pena de excluir humanidade. Mas convenhamos que isso feito por mãos de artistas legítimos, cujo objetivo não é ganhar dinheiro com best sellers e outras escrevinhações, surgirá de forma harmoniosa, linda, grandiosa, sem falsos moralismos, que, diga-se de passagem, todo consumidor de pornografia é no seu âmago, um grande FDP de um moralista. Sendo homem, um moralista com ejaculação precoce, na melhor das hipóteses, se mulher, uma moralista que só se satisfaz como “vagabunda”, nunca conheceu um sexo com um homem de verdade, não consegue ter prazer sem baixaria. Pobres de nós moralistas! E o autor do tópico resumiu bem a questão quando disse que afinal, hoje em dia tudo gira em torno de dinheiro, poder e sexo. Ainda bem que existem pessoas que conseguem ficar à margem desse trinômio. Acho que encerrei por aqui.
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O autor do tópico disse que concorda com a afirmação de que literatura de ficção não pode excluir sexo sob pena de excluir humanidade. Só que isso foi só uma parte da minha argumentação. E se o grande escritor X ou Y quiser ganhar uns trocos fazendo algo mais comercial, como o citado João Ubaldo Ribeiro, isso não invalida o que falei sobre grandes obras literárias. Elas contém o sexo dentro de um contexto de obra de arte, seja em Nelson Rodrigues, seja em Jorge Amado ou no grande Saramago. Você já leu A HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA? Que erotismo maravilhoso no encontro de Raimundo Silva e sua amada! Mas eu sei, existem as pessoas que não têm alcance para ler tais obras. E as editoras estão atentas a esse público que é a grande fatia dos leitores. Aí surge essa pseudo literatura chamada erótica. Eu sei, não é novidade, pois sexo é algo que nasceu com a humanidade. E a repressão sexual e o moralismo são ótimos agentes para produzir leitores para tal conteúdo. Entretanto, se você ler os eróticos desses sites, verá que além da maioria dos textos ser um amontoado de clichês de baixaria, com uma receita repetida, é tão mal escrita e tão sem criatividade que só poderá servir para fins masturbatórios de libidos exacerbadas. Enfim, consome-se muito, consome-se refri, salgadinhos, fast food, filmes de ação, cervejinha gelada, filmes pornô, carros, revista Júlia, Caras e também histórias de sexo explícito. Nada contra. Mas mercado literário? Essa não!


quarta-feira, agosto 22, 2007

FLORESCENDO COM A PRIMAVERA




Amado C.

Quando eu "sei" onde você está, como durante a semana, no trabalho, parece que te sinto mais próximo, mais ligado a mim, mais real, isso é mesmo estranho. Mas chegando a sexta-feira, durante o fim de semana e quando você viajou pra sua terra, a impressão que me passa é que te "perco" de vez. É como se eu mapeasse este unvierso virtual e tu estivesses ora mais próximo, ora inatingível, ora até aconchegado, quando chego a sentir através das palavras que quase nos tocamos...


Entrar em contato apenas virtual e a partir daí chegar a tal envolvimento, é uma experiência totalmente nova, embora as motivações sejam resultado de muitas vivências e provavelmente de uma aridez, de um estado de solidão em que me encontrava,. Eu nem sabia, mas já havia "canteiro plantado" pronto pra florescer, bastava que uma chuva muito especial viesse despertar a vontade das plantas de novamente brotar de sementes esquecidas, mas teimosas, inconformadas até, quando tudo já parecia estar resolvido em minha vida. Mas elas precisarão de muita vitlidade para seguirem crescendo e pra que o fato de terem sido despertadas para a vida não venha a ser um esforço vão. Negar a si mesmo a possibilidade de ser, talvez seja o ato mais imoral que alguém possa praticar nesta vida. Foi algo assim que disse Clarice Lispector e sou obrigada a concordar com ela. E vontade de escrever mais, inclui vontade de ler sempre mais e isso é suficiente para suprir a necessidade "específica" que eu também sinto em relação a você? Bem que eu dizia sobre os fechos das cartas, "isso não vai dar bom resultado", lembra disso? E já temos coisas a lembrar, assim, sem sequer ter nos olhado por um instante sequer? E tantos beijos escritos na fria tela, parece que de repente vão perdendo a força , por tanto se repetirem , sem nunca realmente terem sido trocados? Beijo em pensamento, gosto de saudade do nunca experimentado, palavras surgindo da ponta dos dedos e da vontade de ser com o outro, e madrugada fria e vôo cego em linha reta , estaremos "jogando de olhos vendados"? E eu neste labirinto sem achar a melhor forma de me despedir? Uma despedida de corpos não presentes, suspensos na linha sutil dos desejos que apenas espiam temerosos pelos vãos de janelas e lá permanecem esperando...esperando... Mesmo assim eu te dou outro e mais outro

Beijo

Taniucha

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Tania


Ah que manhã, esta! Nem vou esperar nada, não dá; sei que não posso correr e dar um abraço, então faço que apenas posso --- digo já o que estou sentindo!
Li, fui lendo, bebendo, sensaboreando as suas palavras e vem-me esta vontade de falar com você. Nem me refiz, nem organizei as idéias, tudo esta ainda fora de lugar por aqui, mas quero lhe falar no quente do momento, sem nem mesmo me dar a chance de acalmar a onda, a vaga que me percorre as veias! Uma emoção intensa ler você nesta manhã, e há tanto a lhe dizer, tanto... mas as palavras estão se atropelando! Neste instante, é dessa emoção que queria lhe falar!

Quero "registrar" essa emoção antes que a razão talvez apare, como o corte do talo de uma flor, ou como o pássaro que nos encanta, de repente silencia...


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Querido Poeta

Entendo tão bem essa sua afirmação! Mas você realmente "registrou" o momento, dizendo o que lhe foi sendo induzido pela emoção. Você sentiu e revelou isso espontaneamente, ao passo que eu construí uma carta com palavras bem colocadas, interessantes, emocionadas até, mas sem essa naturalidade que surge de uma escrita sem freios, sem cortes, que me deixou tão feliz e me permitiu quase "ver" seus movimentos, sentir quão sincero estava sendo naquele momento, como eu invejo você, que não se tolhe diante de uma descoberta,movimentos diante de uma revelação, que se expõe tão naturalmente a meus olhos, você é mesmo especial. E o que fiz eu ?falei de um sonho, usei uma linguagem superficial, casual, como se estivesse falando de um fato qualquer, como eu me odeio por isso. Mas agora tento remediar, dizendo o quanto este dia foi importante pra mim. Eu gosto tanto de ti, tanto mesmo. E como teria sido bom receber aquele abraço que tiveste vontade de me dar, como!
E ao ler você hoje, fui até a porta e lá estava o céu como sempre esteve, mas de um azul incrível,Parei e olhei de verdade para aquela imensidão, quando dois beija-flores surgiram naqueles volteios, indo direto à laranjeira. Fiquei atenta e vi ao mesmo tempo em que pousavam, que havia tantas flores brancas e pensei que não poderia haver um quadro mais lindo e a prova incontetável de que a primavera estava dando seus primeiros sinais. Na natureza e dentro de mim. Um céu totalmente novo me diz que boas novas serão trazidas pelos ventos do norte.
Quando criança a gente adorava o tal "vento norte". Ele, ao contrário do minuano gelado, cortante, era morno, estranho, misterioso e corríamos ao redor da casa abrindo os braços, "vento norte"," vento norte"... Espero esse vento pra correr novamente de braços abertos dando risada, vento norte...

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Tania

Tomara a primavera esteja mesmo surgindo em você, que, literalmente, vem saindo ( e está saíndo?) de um inverno duro. Tomara o sol lance fora os medos, traga um esplendor de alamandras nas manhãs apenas raiadas! Como seria seu amanhecer, nesta altura de sua vida... que força, que mistérios, que magia seria capaz de apressar essas manhãs, esta primavera??

O vento do norte... do Planalto Central... das altiplanuras de Minas, talvez? Então, que sejam ventos cálidos em sua paisagem do sul... Ah, quisera eu poder cavalgar esses ventos do Norte... mas chegar num tempo que não fosse o tempo de folhas caídas, e sim, o tempo daquela verdura apenas saída da horta, fresquinha, gotejante ainda!

Nossa!! Como estou dispersivo... começo a lhe escrever e vou me perdendo, me perdendo... estou deixando tanta coisa sem responder, comentar... por exemplo, sobre você ter escrito menos (ah, vi os artigosTomara a primavera esteja mesmo surgindo em você, que, literalmente, vem saindo ( e está saíndo?) de um inverno duro. Tomara o sol lance fora os medos, traga um esplendor de alamandras nas manhãs apenas raiadas! Como seria seu amanhecer, nesta altura de sua vida... que força, que mistérios, que magia seria capaz de apressar essas manhãs, esta primavera??








Querido Poeta



E que ventos tão amanhecentes estão soprando ligeiros tal que sempre ao chegar a esta janela, só recebo em meu rosto uma vaga brisa com cheiro de ervas denunciando que os ventos que por aqui a recém passaram, machucaram com carinho a vegetação ainda orvalhada das quatro horas da manhã?
Não cheguei a tempo de ver as escriturinhas lá na tua página. Se pudesses imaginar quantas vezes eu naqueles tempos mais complicados de nós desejei vislumbrar naqueles escritos alguma coisa que de leve pudesse ter a ver comigo? Aquele texto da esteira na praia, como quis que fosse eu a estar lá. E quantas vezes tentei interpretar aquele teu comentário com letra de tango, esquadrinhando cada palavra, aquele em que você assinou Calucho. Aí você me disse que era uma forma de comentar que você sempre usava. Fiquei mesmo muito triste, queria tanto que tivesse sido escrito pra mim... Mas tinha a tal mulher de olhos claros, quem seria? E uma prosa onde você escreveu, "pra você, naturalmente".
Você não poderia ter me dado melhor presente. E não é que eu vou ficar convencida de que sempre que quero muito uma coisa ela acontece? O meu pensamento mágico parece ter respaldo com as divindades...
Não se preocupe com não poder cavalgar agora os ventos em diração ao sul. Eles estarão sempre por aí e o nosso "canteiro plantado" continuará a produzir plantas viçosas que não demora, tu vais ver, estarão diante de nossos olhos...

Um beijo no seu rosto, abraço muito você, e olha, até ja começo a chorar, que coisa não é? Mas que emoção tão boa de se sentir!

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quarta-feira, agosto 15, 2007

INTERAÇÕES POÉTICAS



Neste melhor de você que tenho guardado, eu me aconchego e sei que é um "ele" que teria a melhor hora de mim. E este melhor é o que você é de verdade, apesar de querer que eu acredite que o inventei e no qual não se reconhece. Você se descompreende demais. Ainda está escondido na loja de armarinhos, atrás daquelas caixas?

Este é o homem que me enternece e não quer que eu me vá. E com quem eu preferia falar sempre. Pra que temer a falibilidade das coisas, elas nem começam, nem terminam, só acontecem enquanto nos distraímos com o võo de um pássaro ou um ruído à distância. Eu me agarro a este acreditar, tal como o cipó do mato se enrosca na árvore. Estou plena deste tempo-ser que estamos construindo sem sequer percebermos.

"Também, o que importa mesmo é outra coisa que nós nem sabemos ainda o que é, esta coisa está escondida de nós... tomara não seja tarde quando descobrirmos ..."

Vejo que assinou como há pouco, isto me fez lembrar de nossos primeiros contatos, em que eu falei "sou claustrofóbica, não gosto de ficar presa" e você respondeu "visgo nenhum eu sou" e aí eu disse que a partida terminava empatada, mas talvez houvesse prorrogação. E há coisas que você me escreveu que a cada vez que leio, fico assim parada, sem acreditar que tais formas tão perfeitas de se dizer de coisas e sentimentos tenham sido enderaçadas a mim. E penso que nunca antes e nunca mais nesta vida, é uma chance única, algo sequer semelhante poderá ocorrer. E eu tive que viver tantos anos pra encontrar você? E tenho que, diante de tal acontecimento, permanecer serena, como se fosse a coisa mais natural deste mundo?


E o que é interessar-se por uma pessoa? E no mundo virtual, que tipo de sentimento cresce a partir daí? Assim, sem presença física, sem toque, sem sons de conversa? Esta experiência é nova pra mim. Mas creio que tenho de ti aquilo que realmente conta, a essência de tua pessoa que não há como não conhecer tendo lido tantas coisas que você me escreveu. O resto são detalhes, o físico, o jeito de andar, lembra que me perguntou se eu fumava? Vê que a tal efemeridade se prolonga já por longos dias... e nem sempre foi fácil pra mim... E será fácil nomear o que se sente? Estar interessado é uma forma um tanto vaga pra definir diferentes situações entre duas pessoas . É só uma forma de falar bastante genérica. . Mas eu prefiro não nomear o que me liga a você. Prefiro descrever. Ficar sem tuas palavras é sentir o vazio mais fundo. E eu não sei como classificar melhor tal sentimento porque ele carece de mais evidências para ser avaliado. Ao mesmo tempo em que é intenso, também a fragilidade dos contatos faz como que fique um tanto irreal e sujeito a uma diluição em dúvidas, falta de referências. Descumpro qualquer promessa de me afastar um pouco de vez em quando, de puxar a âncora e partir desta costa. Tomei gosto por tudo nestas paragens. E de tanto andar a esmo já conheço caminhos que quase me levam ao ponto mais alto de longe vislumbrado. Terei coragem para suportar tal caminhada? E algum caminho se fará mais largo e acolhedor para os meus pés cansados?

E sobre a falibilidade das coisas ...

Pois nem começar por medo que logo termine, é algo que acaba por nos deixar mais tristes pelo fato de tal impossibilidade só nos tornar amargos de forma ainda pior, sem ter nada pra lamentar, a não ser o fato de não ter tentado.
Então eu vou... Tomara ainda não seja tarde...

INTERAÇÕES POÉTICAS



"...ou era noite antes, e agora, há ânsias para o amanhecer? Perguntas sem respostas; mistérios de mistérios de quando a gente encontra alguém, um cruzamento de caminhos... caminhos se juntando, pelo menos no provisório? Ah... pra que ficar analisando, analisando... e se está tão bom assim, por que não apenas fruir? Por que querer saber tanto? "



Querido poeta

Provisório tudo é, foi você quem me disse outro dia quando falei em tal condição. Mas há os provisórios que a gente já sabe que nunca passarão disso, e há outros que são somente um momento que espera pelo próximo, e há ainda os que a gente nem sabe da existência, estando ainda indefinidos, em partes que ainda precisam se unir como peças de montar. Estes na verdade são a nossa própria vida, uma infinidade de retalhos que vão sendo costurados conforme decisões momentâneas, escolhendo entre o verde e o azul, entre o de estampas floridas ou o preto fechado. E neste constante ocupar-se, as longas noites podem amanhecer na magia das escolhas, no encantamento dos encontros inesperados, cruzamentos de caminhos, no trabalho de ir dando forma a esta colcha de retalhos. E por que não apenas fruir, você pergunta, apenas deixar-se levar ? E estremecer de leve a cada leitura das palavras do outro, e encher-se de uma alegria inesperada e de esperanças malucas, adivinhando coisas nas entrelinhas, sendo feliz naqueles instantes de individualidades misturadas.

segunda-feira, agosto 06, 2007

H U M O R

por Madame Satã











MULHERES HOJE


Mas há os limites que nós mulheres devemos impor. Nossa nudez com quem quer que seja, deve ser respeitada. Anseio por alguém que me encare de igual pra igual, e, mesmo uma relação provisória pode ser algo bom se houver de parte a parte , muito respeito, intenções claras e consideração. Ser livre não é, de modo algum, expor sua intimidade a público.

Mulher que" abre as

pernas para a a "platéia"

corre o risco de não

conseguir mais fechá-las.

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domingo, agosto 05, 2007

Amargo manjar dos deuses

Postado por Luiz Weis em 2/8/2007 às 8:03:36


jrnalista do Observatório da Imprensa

Refiro-me ao implacável retrato do Brasil traçado hoje -

despretensiosamente- por Nina Horta, cronista de culinária da Folha

sob o título, O MUNDO ATRÁS DAS GRADES



REFLEXÃO (cá entre nós)

Disse uma vez certo arquiteto, quanto mais os ricos se fecham em condomínios fechados, quanto mais se fechem as grades para uma suposta segurança, mais será cavado o abismo entre pobres e ricos e cada vez mais estaremos construindo uma nação onde há um muro explícito de individualismo, preocupação egoísta travestida de direito à segurança e onde quem tem muito julga que seus direitos são ilimitados. Desta forma, os meninos que jogam pedra nos gays e prostitutas, que põe fogo em mendigos, estão mostrando que sua humanidade é de outra natureza, e os que vivem fora dos muros onde cresceram, são uma categoria de seres de outro mundo, que lhes parece muito natural espezinhar, assim como em épocas medievais ricos senhores feudais, isolados em seus castelos, julgavam que os que lhes serviam existiam somente para tal fim, sendo muito natural dispor de suas vidas como um criador dispõe de seus bois para o que bem entender, até para diversão e saco de pancada. Mas tal afirmação recebe um novo viés na palavra desta mulher que escreve sobre culinária e tem acesso aos portões eletrônicos em vista de sua profissão. Ela mostra que há uma certa paranóia instituída, onde mesmo nas vilas de casas com sala cozinha e quarto, as pessoas estão colocando grades. Eu resisti muito a colocar uma cerca de ferro diante de minha casa. Quando casas bem mais humildes já ostentavam portões um tanto imponentes para o que guardavam, eu, após uns meninos terem invadido minha casa quando estávamos fora, coloquei a tal proteção. Mas olha o que ocorre. Enquanto meus vizinhos se fecham com portões eletrônicos ou passam cadeados o tempo inteiro, nós aqui teimamos em deixar o portão meio aberto, ninguém tem mais a chave do cadeado que o próprio também sumiu e por isso há uns pobres coitados que me incomodam às vezes vendendo coisas pra não pedir esmola ou até me aborrecendo, como um menino que usa drogas e veio bater pra pedir dinheiro com desculpas as mais variadas, por umas cinco vezes em curto período. Eu nunca o tratei mal, só que finalmente expliquei pra ele mais energicamente que não lhe daria tal valor porque ele estava abusando. Mas graças a esta minha teimosia, eu já tive oportunidade de ver lindos sorrisos de vendedores, crianças, rapazes e toda a gente que quando bate à tua porta está ainda com esperança de não vê-la bater em sua cara. E eu que já levei uma inesquecível dessas, numa ocasião em que estava deseperada e sozinha num prédio estranho, depois da meia noite e com três filhos pequenos, nunca poderei fazer o mesmo. Era um casal que me negou qualquer auxílio por se sentir no direito muito alardeado por aí , em slogans e gritaria, de sequer me olhar direito, isso que eu estava com uma criança de quatro anos na mão. E como fala a cronista no texto abaixo, de alguma coisa teremos que morrer, de pneumonia ou catapora, de câncer ou de tiro, que diferença faz? Porque se todos continuarem a negar um mínimo de seu tempo e de sua boa vontade aos que estão do outro lado das grades, então não haverá mais esperança, não haverá nem palavras, nem lutas, nem gritaria que resolvam. Não seria muito mais bonito se, ao invés de as pessoas se unirem pra bater, pra xingar, reclamar direitos, dizer que estão cansadas, cansadas? De tanta solidão, de tanta má vontade, de tanto egoísmo? E se todos resolvessem dar uma trégua, arriscar um pouco dessa sua segurança infeliz e estéril para que algo possa REALMENTE mudar?

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O MUNDO ATRÁS DAS GRADES

(NINA HORTA)


Resolvi andar um pouco a pé, ir até o supermercado. No meio do caminho, não tinha uma pedra, uma pedra, mas senti uma estranheza que custei a identificar. Quando eu passava em frente aos portões, soava um alarme e luzes se acendiam. Fiquei brincando de gato e rato com as portas tão sensíveis, mas foi me dando uma raiva burra. Acreditam que me senti excluída e empurrada para fora daqueles prédios?
Não deveria ter sido surpresa. É que sou muito distraída. Quando vou a uma festa feita por nós do bufê, passo por problemas incríveis. Basta o porteiro enxergar uma velha de cabelos brancos que se diz cozinheira, na chuva, sobem-lhe à cabeça suspeitas terríveis de assalto e mulher-bomba. Escondido atrás de um vidro blindado fumê, pede a identidade que devo inserir numa fenda, de onde cairá na caixinha dele.
Começo a vislumbrar, atrás do escuro, um sujeito atarracado, mordendo a ponta da caneta, olhos entrefechados. Escreve e lê com dificuldade. Acho que tão avançada técnica contra ladrões mereceria um Nero Wolfe, um Perry Mason, um Sherlock. Inúmeras vezes já cansei ao ser recolocada numa segunda jaula, e daí desisto. Brado: "Não entro, mas não tem festa". Costuma ser um abre-te sésamo. O engraçado é que, todas as vezes que consigo chegar, adivinhem quem já está lá me esperando há 40 minutos? O senhor Zé, nosso motorista de longa data, que tem a maior cara de mexicano, bigodes revirados e olhar furtivo.Ele, sim, sabe das coisas.
Claro que entendo que a segurança é necessária. Mas o problema que tenho para aceitar as ruas fechadas... As ruas do meu bairro, as vilas do meu bairro. Onde foi parar o meu bairro? Que droga. Fico pensando assim. Se tenho que morrer de pneumonia, catapora, sarampo, dengue, morro de ladrão, mas não abdico da rua. O que perderam meus netos por não conhecerem seus vizinhos? Por terem perdido dona Judith, que fazia gefilte fish, dona Hermínia, que recheava alcachofras com a farinha de pão e as fritava em azeite? Dona Conceição, que era especialista em doce de tomate? Sem contar dona Seraphita, com suas inefáveis balas de ovos. Vocês não imaginam o que eram as balas de ovos portuguesas da dona Seraphita, que não tinham nada a ver com estas que comemos hoje, com cascas duras como vidros. E com a irmã dela aprendi a comer sanduíche de chocolate e de uvas. Sem contar Natália, a italianinha, esta sim, que me deu o maior prazer de todos, ensinando-me furtivamente como se fazia um sanduíche de alho cortado fininho, um pingo de sal e bastante azeite. O meu bairro era a ONU, era o que nos transformava em cidadãos do mundo, era o que nos ensinava a enfrentar a vida de patins e bicicleta, era o mundo lá fora que trazíamos para exame dos pais. A rua educa, todos misturados na mesma tigela. Era preto e era branco, amarelo, pobre e rico, vendedor e comprador, sem zumbidos de grades excludentes.
O que mais me irrita é achar que por trás disto tem um pouco de sentimento de status. Se os muito ricos se fecham atrás de grades, nós também devemos nos fechar, no que nos enganamos. Naquelas casas onde há seqüestráveis de verdade não se percebe a segurança. Invisível.
Atrás do bufê há uma vila. As casas são simpáticas, geminadas, uma boa sala, cozinha e quarto. Pois não é que puseram um portão de um lado e outro de outro na vilinha? Não podemos mais dar uma volta no quarteirão sem um guarda que abra os portões desconfiados.
Bairros são o mundo em pequena escala, são a primeira inspiração de nossas vidas. Olhem só o nome dos tangos. "Mi Viejo Barrio", "Los Cien Barrios Porteños, "Esquinas Porteñas", "El Barrio", "De mi Barrio", "Cuando el Barrio se Duerme", "Compadrito de mi Barrio"... Sem falar em Jaçanã e Copacabana. Derrubemos los portoñes!
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